08/03/2021
Home office quebra-galho

Estamos vivendo um home office quebra-galho

 

A primeira vez que ouvi essa frase foi em uma conversa com a Dra. Roberta Vergueiro Figueiredo, advogada especialista em Direto do Trabalho, criadora do canal CLT em Pauta, no Youtube. Estávamos em uma live falando justamente sobre o home office e a pandemia.

 

O home office foi a solução encontrada por muitas empresas para manter suas atividades durante a pandemia. Fazer girar a economia passou a ser questão de sobrevivência das empresas, tanto quanto o isolamento social tornou-se essencial para evitar a disseminação do vírus e preservar a vida. A saúde do negócio entrou em foco assim como a saúde dos colaboradores, que precisavam do emprego para manter a sua autoestima. Ou seja, tudo estava interligado.

 

Mas sabe quando você se muda às pressas para uma casa e instala um armário provisório que acaba se tornando definitivo? Com o home office foi assim. Os colaboradores migraram para suas casas a toque de caixa, afinal, de repente tudo fechou. E aquela situação que parecia ser breve, foi muito mais demorada do que todos esperavam.

 

Aos trancos e barrancos, empresas e colaboradores foram se ajeitando. Melhorando a internet aqui, consertando um equipamento ali ou até providenciando materiais que faltavam para fazer o home office acontecer. E no acender das luzes de um belo dia, as casas tinham se tornado escritórios. Ou melhor, eram metade casas, metade escritórios. Um home office quebra-galho.

 

Com o passar do tempo, todos os setores e as pessoas foram se adaptando a essa realidade pandêmica. Alguns colaboradores até começaram a gostar de trabalhar em casa, e as empresas passaram a perceber que a produtividade até poderia ser maior. Reduziram custos com aluguel e com uma série de itens e, ainda assim, tinham o funcionário à disposição. O tempo todo. Aí é que começaram os problemas.

 

O home office quebra-galho

 

Nas consultorias que tenho dado, especialmente para empresas de São Paulo (tanto na capital, quanto no interior), tenho visto um erro muito comum acontecer: empresários perderem o limite da relação com o funcionário devido a esse home quebra-galho.

 

Isso porque, na verdade, as pessoas não estão exatamente trabalhando em home office, mas estão trabalhando em casa. Ou seja, o computador foi, muitas vezes, instalado na sala de jantar, onde a família se reúne para conversar ou para ver TV.

 

Então, mesmo naquela hora de descanso, em que o colaborador está de boa com a sua esposa e com os seus filhos, os chefes esperam que ele atenda o telefone ou responda a algum e-mail. E ai dele se não responder!

 

Estar em casa e longe dos olhos do gestor já é confortável demais e não permite aquele controle exercido antigamente, então, no mínimo, ele tem que estar à disposição, certo? Errado!

 

As empresas precisam tomar muito cuidado porque home office não é escravidão. Situações emergenciais acontecem, e independentemente de onde o colaborador esteja – em casa ou no escritório, ele pode sim atender. Vez ou outra.

 

Agora se o seu funcionário recebeu um e-mail às 22h e ainda respondeu, isso pode caracterizar, juridicamente, que ele estava trabalhando até aquele horário. Se foi obrigado a responder, então, a situação é pior ainda.

 

Sinal de alerta aceso

 

A pandemia não vai acabar tão cedo. Até que todas as pessoas (ou boa parte delas) sejam vacinadas, nós vamos ter que conviver com esse vírus, assim como tivemos que conviver com a varíola, com o H1N1 e com a malária, enfim, temos muitas doenças não erradicadas no Brasil, com as quais temos que conviver e às quais temos que nos adequar.

 

O home office, com os devidos ajustes, é uma realidade que veio para ficar. Como consultor empresarial tenho transmitido aos meus clientes uma importante orientação com o embasamento jurídico fornecido pela Dra. Roberta: se a sua empresa tem funcionário em home office, procure o seu Departamento Jurídico o quanto antes e faça um adendo de contrato com os devidos ajustes, porque lá na frente, isso pode virar um sério processo trabalhista.

 

Outra importante orientação, esta de condução empresarial, é para que se busque uma conexão entre empresa e empregados, procurando estabelecer de modo amigável os de direitos e os deveres. É preciso acender a luz do bom senso – de ambos os lados – para minimizar as tantas reclamações decorrentes desse novo modelo de trabalho.

 

O colaborador não precisa ser inflexível. Vez ou outra, não custa responder a um e-mail às 17h15, mesmo que o seu horário seja até as 17h. Por outro lado, a empresa precisa compreender que o funcionário tem horário de trabalho, tem esposa ou marido, tem casa, tem filhos, enfim, tem uma vida para além do trabalho. Se não houver respeito, não haverá harmonia. E a chance de que essa situação caminhe para um processo trabalhista será ainda maior.